CARNAVAL: INTEGRE-SE AO ALEGRE CORTEJO DE BACO
Antônio Carlos Scavone
Baco foi o nome dado pela tradição romana a Dionísio, deus do vinho e da embriaguez, da colheita e da fertilidade. Surgido no Oriente dominou toda a Grécia, e acabou colocado pelos gregos no Olimpo, no mesmo patamar de dignidade das outras divindades oficiais.
É significativo constatar quem foram os seus mestres: Ninfas, Musas, Sátiros, Bacantes, e Sileno que formaram o cortejo dionisíaco, ao qual se juntaram Pan e os outros centauros. Dessas figuras mitológicas, as mais representativas e associadas ao nosso carnaval são as Bacantes, jovens que, simulando delírios dionisíacos, celebravam as orgias com gritos e danças desnorteadas, tocando flautas ou tamborins. E também, Sileno, um velho calvo com chifres, baixo e corpulento, sempre embriagado, mas detentor de grande sabedoria, conhecedor do passado e do futuro, qualidades oriundas da euforia do vinho, segundo os gregos. Foi o educador de Baco.
O cortejo dionisíaco viajava por toda a Grécia, trazendo alegria e felicidade aos devotos (era equivalente às escolas de samba e trios elétricos de hoje). Baco, em todos os lugares por onde passava, ensinava como cultivar as uvas e a fazer o vinho. Enquanto durava o estado de embriaguez, os homens sentiam a presença de uma força superior, divina, dentro de si, semelhante a dos deuses e uma profunda confiança no próprio poder, afastando o medo, redobrando a coragem e cortando os males. A vida parecia ganhar, então, maior esplendor. A força de Dionísio era tão grande, que se tornava viva e atuava em seus corações.
A partir da imagem de um deus que, por breve tempo, tornava livres os homens através da embriaguez, surgiu a figura de outro que os libertava pela inspiração. Apesar da variedade das celebrações, dois elementos eram comuns a todas elas: o caráter orgíaco (símbolo da renovação da natureza, de alegria e promessas de fartas colheitas) e a presença das mulheres que em delírio, assemelhavam-se às primitivas bacantes.
Suas festas duravam vários dias. As Oscoforias eram festas da colheita, onde meninos, com vestes femininas, transportavam ramos da videira cheios de uvas maduras (o que está associado com o antigo hábito carnavalesco dos homens se fantasiarem de mulher). Outras celebrações importantes, eram as Grandes Dionisíacas, realizadas no verão, e ligadas a origem do teatro, e que de alguma forma lembram o costume da fantasia no nosso carnaval. As máscaras e trajes eram confeccionadas com peles de animais, representando cenas da vida de Dionísio.
Baco tinha uma habilidade mágica de transformar-se em outros seres, para fugir das armadilhas, ou para enganar seus perseguidores. Dessa forma transformava-se em leão, cobra ou pantera e enfeitiçava os outros, transformando-se em animais diversos. Daí a associação desse mito com o signo de Peixes, regido por Netuno, também chamado o planeta da ilusão. Não por acaso, a festa de carnaval é realizada, geralmente, durante a passagem do Sol pelo signo de Peixes. A história de Dionísio, envolve êxtase, embriaguez e um estado ilusório de euforia.
Todos nós temos um lado Dionísio, alegre, brincalhão, e mágico, se este lado for muito reprimido, o que acontece quando vem à tona, é um desequilíbrio, proporcional à repressão. Por isso, as formas catárticas de expressão dionisíaca são tão importantes para a integração desse lado. Portanto, dê vazão a seu lado Dionísio e aproveite as folias do carnaval, para depois retornar com mais leveza às obrigações do dia a dia.
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