A GRANDE MÃE UNIVERSAL NA MITOLOGIA
Antônio Carlos Scavone
A Mãe Terra, expressão matriz do feminino, mais do que Vênus, pode ser considerada a verdadeira regente do signo de Touro, do elemento terra e signo raiz de terra. Não por acaso, é durante esse signo que comemoramos o Dia das Mães.
Para os antigos gregos, Gaia (A Mãe Terra), nasceu do Caos, a matriz do Universo. Dele também foi gerado Eros (o Amor). Ela era a base sólida de todas as coisas.
Homero, o primeiro poeta grego, e da Literatura Ocidental, considerado o maior poeta de todos os tempos, cantou-a em seus versos:
“Mãe de todas as coisas. Inabalável ancestral do mundo. Origem de tudo que se arrasta sobre o solo, nada no mar, voa no ar. De ti, augusta deusa, nascem as belas crianças e os belos frutos, pois tu lhes dás ou retiras a subsistência segundo tua vontade. Da riqueza que espalhas, na abundância de teu coração, o homem tira todas as coisas: a colheita que enche os campos e o gado robusto que lá prospera…”
Gaia era representada pelos artistas gregos, como uma mulher gigantesca, de formas pronunciadas e seios enormes. Pela Arte Romana, como uma mulher de traços e dimensões comuns, porém sempre acompanhadas de crianças. Era festejada como símbolo universal de fecundidade e também como profetisa. Expressava, pois, a fertilidade e a intuição maternas.
Gaia (a Terra), pela força de Eros (o Amor), uniu- se a Urano (Céu) e teve inicialmente doze filhos: seis homens e seis mulheres, que povoaram o mundo e iniciaram a longa e penosa história da humanidade. Seus primeiros filhos foram os elementos devastadores, faziam os vulcões entrarem em erupção e criavam terremotos, tempestades e furacões. Quando aprisionados pelo pai, ela os libertava. Sendo a Natureza, precisava sempre permitir que os fenômenos naturais seguissem seu curso. Gaia, a Terra, é mulher, é feminino, concepção e recepção. Ela é a mãe nutridora comum a toda a humanidade. Urano (Céu) é o criador, masculino, o ativo, o fertilizador.
Esse principio se desdobra em outras deusas tais como Deméter ou Ceres que regia os ciclos da natureza e de todos os seres vivos, por isso usava roupas enfeitadas com cores vivas. É uma deusa matriarcal, a imagem do poder das entranhas da terra. Ela ensinou aos homens a arte de arar, plantar e colher, e às mulheres, como moer o trigo e fazer o pão. Deméter lembra à humanidade que a experiência da maternidade não está restrita apenas à gestação, nascimento e amamentação, mas sobretudo, à experiência interior da Grande Mãe. Se ela não estiver presente dentro de nós, seremos incapazes de gerar e dar frutos, não teremos paciência e tranquilidade para esperarmos o amadurecimento das coisas. Ela nos ensina a sabedoria da natureza que sabe o movimento dos ciclos e o processo preciso do amadurecimento.
Perséfone, filha de Demeter, simboliza a imagem do elo com o misterioso mundo interior, o inconsciente. Lá, onde o segredo do destino do indivíduo está guardado, em estado germinativo e embrionário, até que a maturação propicie que seja manifesto.
É a imagem da lei natural operando dentro das profundezas de nossa alma e governando o desenrolar do destino a partir de um ponto invisível, que só pode ser revelado pelo sentimento, a intuição ou os sonhos. Ela representa aquela parte de nós que conhece os segredos ou os sonhos. E os mistérios do mundo interior. Significa o ritmo misterioso do movimento cíclico do tempo, lembrando- nos que as sementes da mudança e dos novos potenciais estarão sob a proteção do silêncio do útero até que estejam maduras para se manifestarem na matéria.
De muito longe, vem impregnada no inconsciente coletivo, a presença da mãe como matriz da vida. Por isso ela está nos fundamentos de nossa identidade. É a primeira imagem de mulher que conhecemos e guardamos dentro de nós, para sempre. Dela, vem a sensação de segurança, proteção, abrigo, lar, tão bem expressa na necessidade de calor que tem a espécie humana. Ela se torna o esteio da nossa busca de segurança emocional.
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