ÁRIES: UM HERÓI FORA-DA-LEI
Antônio Carlos Scavone
A compreensão dos mitos pode nos ajudar muito, para entendermos os símbolos astrológicos de uma forma mais ampla e mais viva. Afinal, eles não são estáticos, atravessaram o tempo, permanecendo atuais e irrevogáveis. Por isso, pode-se falar sobre cada signo como se fosse parte de uma grande história — a da humanidade, contada através de seus mitos. Embora esteja repleta de episódios e heróis arianos e as lendas medievais tenham vários exemplos (Lancelot e os outros Cavaleiros da Távola Redonda) pode-se sintetizar a mitologia de Áries, em dois mitos básicos. Um deles, vem da Antiga Grécia e o outro das florestas de Sherwood — Robin Hood, um personagem tipicamente ariano. Um verdadeiro herói fora-da-lei. Aliás, todo Áries tende a se colocar fora do sistema, porque luta pelas mudanças e pelo progresso. E, Robin Hood, autoeleito defensor dos fracos e oprimidos, é inimigo número um da autoridade corrupta, representa muito bem esta tendência ariana.
O segundo aspecto, desta história é que Robin Hood está sempre cercado de muitos homens valentes e alegres, e todos o apoiam. Sendo um signo de fogo, Áries está sempre determinado a se divertir em tudo o que faz. A vida deve ser bem vivida, especialmente se for perigosa. Quanto mais desafio, maior o prazer de viver. O entusiasmo e a alegria, nunca poderão ser perdidos, principalmente diante das grandes batalhas.
O cenário da lenda de Robin Hood tem, também, muitas características arianas. Tem um “rei bom”, Ricardo Coração de Leão, que está longe, nas Cruzadas, lutando para reconquistar a Cidade Sagrada e um “rei mau”, Rei João, que usurpou o trono. E ainda o povo oprimido e os ricos opressores e uma figura sinistra, na forma do eterno arquétipo, o xerife de Nottingham, representando a autoridade sem sentido, a lei sem tolerância e a estrutura de classes, sem direitos. Todas essas figuras pertencem ao mundo de Áries, inclusive a donzela Marian se encaixa no “sonho” ariano: ela está sempre precisando ser salva de alguma coisa. No final da história, o rei Ricardo retorna – e aqui temos mais um episódio ariano – e descobre-se que ele não era um rei tão bom assim, mas isto, para Áries, não importa tanto; o que vale é não perder o prazer de lutar e de viver como faz Robim Hood, o eterno lutador das florestas de Sherwood.
O outro mito associado ao Áries é a história de Jasão e os Argonautas em Busca do Tosão de Ouro (claro que seria a lã dourada de um carneiro – símbolo do Aries). Jasão, como bom ariano, ouviu falar do Tosão de Ouro e ficou fascinado, para encontrar o impossivel. Então, com seu bando de homens valentes e alegres – os argonautas – parte, enfrentando mil perigos, chega à Colquida e resgata o Velo de Ouro. Porém, este mito não tem um final feliz. Ele mostra, de certa forma, os perigos que o Aries enfrenta no seu caminho para a realização. Jasão é um tipo ariano que fracassou, enquanto Robin Hood deu certo. Para resgatar o Tosão de Ouro (cuidadosamente guardado por um dragão) Jasão é ajudado por Medéia, filha do rei da Cólquida, que trai e abandona a família, porque se apaixona perdidamente por Jasão e resolve acompanhá-lo a qualquer preço. E tudo corre bem entre eles até a sua volta. Jasão passa a usar a lã dourada na cabeça e a se comportar como uma “ovelha estúpida” e não mais como um carneiro “forte e dourado”. Tenta descartar Medéia (e seus filhos) por uma donzela mais jovem. Este é um dos problemas do Áries: uma vez atingido seu objetivo, ele esquece a ajuda que recebeu no caminho, ou se cansa e parte para outra. Mas Medéia não suportou esse tipo de tratamento, ao invés de sair do caminho e dar passagem à outra, ela envenenou a rival, matou os filhos de Jasão e fugiu numa carruagem puxada por dragões alados. A sorte de Jasão mudou dai em diante. Num certo sentido, ele subestimou Medéia e não soube valorizar o poder feminino. E muitos arianos agem assim, como se o mundo fosse povoado por heróis fortes e invencíveis, que não precisam da força das mulheres. Então, Jasão teve um triste fim. Não porque falhasse na captura do Tosão, mas por não saber considerar nada além de seu próprio desejo, ou valores, acabou recebendo uma vingança terrível em troca de seu egoísmo.
Estes dois mitos tocam nas motivações e necessidades profundas da natureza ariana: a necessidade de um objetivo – sem o qual a vida para Áries não tem sentido e a necessidade do desafio a ser vencido.
O fogo é o arauto das novas ideias e das mudanças, do impulso e da energia vital. Sem sua força e iniciativa na arrancada da grande corrida, não conseguiríamos chegar ao final para novamente recomeçar (mais fortes) a jornada que repetimos todos os dias. Porém, o Áries precisa aprender a repartir, a considerar o outro e a dividir tanto as alegrias, quanto as dificuldades do caminho.
Deixe um comentário