SETEMBRO: A ARTE DE EQUILIBRAR OPOSTOS
Antônio Carlos Scavone
Ninguém parece duvidar que Libra é o signo do amor. Mas este amor deve ser sempre expresso no estilo apropriado. Um ritual de amor cortez, com todos os gestos, as palavras, o perfume, as flores e as canções certas para o momento.
O seu grau de exigência e perfeição é muito alto. Ideal demais, até ingênuo. A sua necessidade de obedecer um ritual é imensa. Mesmo um minúsculo ato tem um significado. Faz parte de um grande rito, que é sua própria vida.
Sua crença em justiça e igualdade é apaixonada. E porque Libra encontra pouco essas qualidades no mundo, ela se sentirá infeliz.
Num mundo imperfeito, Libra busca esse ideal em tudo e todos. Acredita que a igualdade possa funcionar na sua relação, até mesmo nas pequenas coisas, o dar e o receber precisam ser harmônicos. Sofre muita desilusão, mas não desiste. O ambiente perfeito, a companhia perfeita, a carreira perfeita podem ser qualidades de outro planeta, mas serão sempre perseguidas. Libra colide, enfim, com a injustiça no mundo. E como no mito do profeta cego Terésias, e em outros mitos de cegos, a cegueira é sempre uma forma de desvelar o mistério dos deuses e de aprender mais sobre a natureza da verdade. A cegueira, no mito, sugere um tipo de visão interior, uma visão por baixo da superfície das coisas.
O universo de Libra é ordeiro. É equilibrado, nítido e geométrico. Funciona segundo um modelo de beleza. E nele, os deuses são sempre justos. O filósofo grego Platão era Libra ascendente e por isso seu mundo real era o mundo das idéias, enquanto o mundo da forma se constituía num sombrio, imperfeito, e danificado reflexo daquele. Ele acreditava na justiça dos deuses.
Como Sócrates, o libriano procura a bondade, a verdade e a beleza como conceitos puros. Quer encontrá-los no mundo, nos objetos e nas pessoas. Daí a necessidade de um eterno esforço para mudar o mundo e fazê-lo um lugar mais agradável, onde tais conceitos possam encontrar expressão.
Terésias encarna também o equilíbrio entre o lado feminino e o masculino ou a junção deles numa coisa só: a androgenia. Hera transformou-o em mulher e ele experimentou durante sete anos a vida feminina. Daí podemos encontrar uma iniciativa quase masculina e muito forte na mulher de Libra, vivendo um corpo feminino e uma natureza muito sensível e estética, convivendo com o corpo masculino do libriano. Desta experiência que Terésias teve com os princípios opostos da natureza, o masculino e o feminino ou o yang e o yin, foi-lhe permitido, mesmo depois da morte manter intato seu intelecto e julgamento. Libra é por excelência cool. É o único signo que é representado por um objeto: a balança; os outros onze signos ou são representados por seres humanos, ou animais.
Daí a urgência de relação tão característica no planeta Vênus, regente de Libra. Relacionar duas coisas não envolve necessariamente emoção. É a arte de comparar, diferenciar, de tornar equilibrados e simétricos padrões diferentes. Mesmo que sejam incompatíveis e mutuamente exclusivos. Por isso, Libra precisa de um companheiro a fim de se sentir realmente confiante quanto ao objetivo que quer atingir. E ela está sempre consciente dos pontos de vista da outra pessoa, não quer se mostrar agressiva no seu encontro com os outros. Preocupa-se com o outro e pensa na primeira pessoa do plural. Incentiva o outro a expressar suas opiniões e desejos, embora possam ser diferentes dos seus. Concorda, para não desagradar e não conflituar, mas sabe tomar sua iniciativa de forma mais suave e polida do que Áries.
A lenda do príncipe troiano Páris pode ilustrar muito bem esse aspecto. Três deusas o perseguiam, querendo conquistá-lo: Hera, deusa do casamento e do coração; Athena, deusa da sabedoria; e Afrodite, deusa do amor e da beleza. Cada uma delas dizia ao príncipe que deveria ser a escolhida porque era a mais bela e em troca prometiam a ele os dotes específicos de sua natureza. No entanto, ele escolheu Helena.
Libra, no fim, escolhe a beleza, mais rapidamente do que as outras virtudes, muito menos sedutoras para ela.
Esse lado “ariano” de Libra, também pode ser percebido no fato da história humana nos mostrar tantos generais e comandantes famosos desse signo, quando nossa lógica cartesiana poderia imaginá-los no seu oposto: Áries. Veja-se Alexandre, o Grande. Era um libriano idealista ao extremo. Acreditava ser possível unir e misturar povos tão diferentes do mundo antigo, como gregos, persas e hindus, cada qual com seus costumes e religiões, numa convivência pacífica. Assim, incentivou os casamentos entre eles. Suas táticas librianas estavam presentes em suas táticas militares, onde vencer não era uma questão de força bruta e sim de estratégia, com um exército unido harmoniosamente em torno de seu chefe.
Eis pois, aquele que parece ser o supremo dom do signo de Libra: a arte de equilibrar opostos.
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