Antonio Carlos Scavone – Astromundo

  Antônio Carlos Scavone

O karma está muito mais presente em nossas vidas do que imaginamos. Ele impregna nossas atitudes, pensamentos e relações com as pessoas e o mundo. Seja em nossa vida pessoal, familiar ou pública, o karma gera atrações que podem influenciar, e às vezes condicionar, o nosso rumo ou destino. Embora não seja apenas uma bagagem negativa, pois traz também o fruto do bem do passado, o desconhecimento e a não elaboração do acúmulo de karma cria, para nós, vários tipos de problemas e dificuldades. Todo o nosso trabalho no decorrer da encarnação é justamente o de abrirmos a consciência para podermos reciclar melhor essa bagagem e com sabedoria administrá-la. Para tanto, no decorrer dos séculos, o homem foi organizando sistemas de símbolos, capazes de lançar luz sobre o seu destino. A Astrologia é um deles, e o Mapa Astral é o seu principal instrumento.

O Mapa Astral pode nos indicar a colheita da alma em relação ao seu passado, o estágio em que ela se encontra no caminho da evolução, e a missão que se propõe na presente vida. Mas o Mapa fala da questão kármica como uma mandala, um tao, isto é, na sua totalidade.

Infelizmente, a nossa tendência ocidental é optarmos pelo maniqueísmo, postura ideológica onde polarizamos tudo em dois princípios opostos, tais como o ideal(Platão) e o real(Aristóteles). Tal postura nos leva a separar os indícios kármicos, dos não kármicos, dentro de um mapa astral. Graças ao predomínio dessa visão, no que se convencionou chamar de Astrologia Kármica, existe uma dificuldade de se ver o Mapa, como um todo, um tao.

Uma das propostas básicas de nosso curso é partir sempre da visão taoísta, nunca esquecendo do óbvio, o mapa é uma mandala, e como tal deve ser considerado. Isso significa que o todo está para as partes, na mesma medida em que elas estão para o todo. Nenhum fator ou indício, nele existente, pode ficar de lado. Quando enxergamos o mapa como sendo todo kármico, a linguagem astrológica é encarada de outra forma e numa outra dinâmica.

 É preciso entender que a leitura kármica de uma mapa exige uma verticalidade e profundidade que não pode ser alcançada por fórmulas ou receitas superficiais e mecânicas. Por isso é necessário um entendimento bem amplo e claro da questão kármica, o mais livre possível de dogmas religiosos. E quanto maior e melhor a qualidade da formação do astrólogo, no campo esotérico, alquímico e filosófico, mais capacitado ele estará para essa leitura.

No entanto, uma análise kármica do Mapa Astral apresenta alguns limites. Basicamente temos três tipos de karma: o sinchit, a totalidade de reservas kármicas acumuladas pela alma e que não se encontra em atividade nessa encarnação; o kriyaman, o karma que perpretamos nesta vida e cujos efeitos enfrentamos nas vidas seguintes; o pralabd, a porção do karma que está potencialmente pronta para ser resgatada nessa encarnação. O mapa astral, enquanto mapa da hora de nascimento, refere-se somente a este último tipo, o pralabd, não havendo indícios dos outros dois. No entanto, nele se encontra uma respeitável gama de informações, muito valiosa para a caminhada espiritual de um ser encarnado.

 A Astrologia Kármica tem  o importante objetivo de mostrar o caminho da alma e aquilo que o ego precisa para se adaptar a esse caminho, por meio de um esforço educativo. Não cabe a ela, portanto, “massagear o ego” quanto a supostas glórias e posições de poder, em outras vidas. Quando exercida com irresponsabilidade, por pessoas despreparadas, ou mal intencionadas, essas leituras inflam o ego da pessoa ou criam uma obsessão por um suposto personagem de outra vida. Se tal acontecer será muito desastroso. Alavancar um personagem, de um dos nossos egos do passado, significa trazer junto toda a carga energética dos ambientes e das pessoas que o cercaram. E se a motivação for o resgate de um antigo poder, o único resultado será o de contribuir para que a alma fique mais presa ainda na roda das encarnações, o sansara. Pois o poder de inércia dessas energias que circundam o personagem ganharão mais força, aumentando o grau de inconsciência.

Assim, não é primordial à Astrologia Kármica dizer quem você foi em uma outra vida, e sim mostrar a maneira como grandes reservatórios de energia foram usados, desperdiçados ou mal canalizados. E esclarecer o resultado disso no passado, no momento atual e na nossa caminhada futura. Aprendendo a usar corretamente essas energias, podemos limpar os nossos caminhos e aplicar, na medida justa, a força energética que acumulamos em nossas encarnações. Sempre lembrando que o correto se refere a uma ética da alma e não da sociedade em que vivemos. Uma vez aberta a consciência, magnetizaremos novas situações de vida e novas pessoas. E poderemos progredir em todos os sentidos, com alicerces mais sólidos. Inclusive na esfera material.

A Astrologia Kármica, quando criteriosamente praticada, pode ser um poderoso auxiliar na cura de doenças crônicas e graves e de traumas psicológicos profundos; na compreensão de alguns obstáculos que nos parecem intransponíveis, e que se repetem de diversas formas no decorrer da nossa vida; na quebra de alguns modelos psicológicos muito rígidos. Seu papel para a cura psíquica é inestimável. Ela possibilita o diagnóstico de núcleos de resistência escondidos em camadas profundas, envoltos no limo disfarçado de “inteligência” do ego. De um modo prometéico, ajuda que nos liberemos da sufocante estrutura desses núcleos, através da luz da consciência.